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O futuro da contabilidade brasileira está nas nuvens

11 ago 2017 – Contabilidade / Societário

O australiano Sholto Macpherson, especialista em tecnologia contábil, aponta as vantagens do uso da contabilidade digital para gerar mais lucros e satisfação aos clientes

No Brasil cartorial, em que tudo ainda se oficializa com papel e carimbos, a migração de informações confidenciais das empresas para o mundo das nuvens pode soar como ficção futurista.

Mas em países como os Estados Unidos, Canadá e Austrália, até os contadores se renderam à computação na nuvem e há tempos colhem os resultados em forma de lucros crescentes para os clientes, além de poupar tempo para zelar pela visão estratégica dos negócios.

“O mundo caminha para o software na nuvem. O uso de plataformas contábeis digitais reduz custos e o tempo dos contadores com o processamento e classificação de dados. E a conversa com os clientes passa ser muito mais interessante”.

É o que afirma o jornalista australiano Sholto Macpherson, um especialista em tecnologia contábil na nuvem e editor da Digitalfirst.com, que participou nesta semana em São Paulo, na abertura do 7º Gescon (Seminário de Gestão de Empresas de Serviços Contábeis).

Para uma plateia de quase 600 contadores, Macpherson disse que as tecnologias em nuvem vieram para revolucionar os modelos de negócios. E a área contábil é uma das mais impactadas com essas ferramentas digitais.

As vantagens são múltiplas, tanto para os clientes como para os escritórios contábeis: é possível acessar e gerenciar os dados em qualquer lugar, de diversas formas, compartilhá-los e integrá-los.

“O uso vai modificar radicalmente o relacionamento cliente-contador”, afirmou

Em várias partes do mundo, de acordo com o especialista, os bancos já estão conectados aos softwares contábeis, automatizando as transações.

Essa conexão possibilita, por exemplo, que os clientes solicitem um empréstimo bancário por meio de um clic.

A partir do pedido, o próprio programa envia à instituição financeira os relatórios contábeis exigidos.

O banco, por sua vez, calcula o perfil de risco do cliente e informa os dados sobre os juros que serão cobrados.  O cliente aceita, ou não, com o mouse de computador, ou teclado de celular e tablet.

“O uso da nuvem é uma tendência inevitável e reduz o custo de manutenção”, disse, ao lembrar de experiências bem-sucedidas, como a que ocorreu com a Adobe, quando ingressou nos negócios na nuvem.

O valor das ações da empresa passou de US$ 35, em 2012, para US$ 93 dólares, em 2016.

Para Macpherson, com o uso da ferramenta, as empresas contábeis internacionais passaram a construir um banco de dados gigante e, a partir dele, com a ajuda de algorítmos, analisar tendências e a oferecer serviços online, como consultoria, e gerar mais lucros aos seus negócios.

No sistema tradicional da contabilidade, a coleta de dados que antecede a elaboração dos relatórios contábeis é demorada e complexa.

É preciso correr atrás dos papéis ou de documentos, em geral apresentados com vários formatos. O processamento das informações, da mesma forma, exige tempo e trabalho, pois envolve a verificação e categorização contábil.

“Sem dúvida, essas tecnologias reduzem os gargalos em cada um desses processos, incluindo o número de ligações para o cliente, que deseja apenas o resultado final”, disse.

A TILIBRA COMO CONCORRENTE

No Brasil, a contabilidade digital caminha a passos tímidos. Ainda são poucos os escritórios  contábeis  que usam a tecnologia na nuvem. Mas já existem várias empresas de softwares de gestão empresarial apostando no mercado.

“Mas nosso maior concorrente chama-se Tilibra, fabricante de caderno”, afirma Marcelo Lombardo, presidente da Omie, que atua no mercado desde 2012.

De acordo com o executivo, 90% das pequenas empresas brasileiras ainda controlam suas finanças no papel, com caneta e, na pior das hipóteses, com uso planilhas do Excel.

A boa notícia, diz, é que a exigência do governo, cada vez mais digital, está provocando uma mudança cultural de forma naturalmente.

“As pequenas empresas, de uma forma ou de outra, estão no ecossistema das empresas maiores, mais organizadas.  Ou compram ou fornecem algo para as maiores. Estas, por sua vez, exigem de suas cadeias de clientes e fornecedores o mesmo grau de organização”, diz Lombardo.

Atenta a essa resistência, a empresa firmou parcerias com mais de oito mil escritórios de contabilidade em todo o país para oferecer uma versão gratuita do software de gestão para os clientes desses escritórios e que faturam até R$ 150 mil por ano.

O software faz a gestão da parte financeira, estoque, emissão de notas fiscais, fluxo de caixa e conciliação bancária.

Atualmente, cerca de 10 mil empresas pequenas do comércio, serviços e indústria usam a ferramenta digital, seja por meio dos escritórios de contabilidade parceiros da Omie ou da rede de franquia da empresa, hoje com mais de 100 unidades.

O alvo da companhia, porém, são as empresas que faturam entre R$ 150 mil a R$ 10 milhões por ano.

Na visão do Lombardo, os profissionais da contabilidade precisam automatizar a parte operacional, com o foco voltado à prosperidade dos negócios de seus clientes.

“Com o avanço do fisco, que vem automatizando cada vez mais todas as tarefas, daqui a pouco uma guia do ICMS virá pronta pelo governo. Se o valor que o contador agrega ao cliente é gerar essa guia, a sua extinção é quase certa”, prevê o executivo.

“Com as transformações tecnológicas, os processos dependem do auxílio de sistemas que simplificam a rotina e essa exigência é em alcance global”, afirma Alexandre Andrade, membro do Conselho Regional de Contabilidade do Rio de Janeiro. “Por isso, a atualização profissional deve ser contínua, com a obrigação de estudar e aperfeiçoar as habilidades no mundo digital, além de acompanhar constantemente as mudanças nas leis e regulamentações”.

A VISÃO DOS CONTADORES

Para Márcio Shimomoto, presidente do Sescon-SP, o Brasil caminha aos poucos para a realidade contábil praticada em outros países, sobretudo naqueles com a questão tributária mais simplificada.
Shimomoto: ou se atualiza ou fecha as portas
A seu ver, com a adoção do Sped, que reúne as informações contábeis e fiscais num único banco de dados, no futuro o próprio fisco fará a apurtação dos impostos.

Nesse sentido, um passo importante foi dado nesta semana, com a assinatura de um protocolo entre a Receita Federal e entidades contábeis, como o Conselho Federal de Contabilidade (CFC) e a Federação Nacional das Empresas Contábeis (Fenacon).

O fisco quer ouvir as sugestões dos profissionais da contabilidade para extinguir obrigações acessórias, atualmente cada vez mais desnecessárias com o uso do Sped. É a simplificação tributária em curso.

“Precisamos buscar outros caminhos. E a empresa contábil que permanecer focada na contabilidade fiscal, preparando guias e pagando impostos, está fadada a fechar as portas. As empresas precisam se reinventar, fornecendo outros serviços”, afirma.

Fonte: Diário do Comércio – DC

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