28 nov 2016 – Contabilidade / Societário
É consenso entre economistas que a taxa básica de juros do Brasil (Selic) feche 2016 em 13,75% ao ano. Porém, a maior preocupação deles é com 2017: tanto Donald Trump, nos EUA, como os rumos políticos do País geram incertezas no ritmo de queda da Selic.
Entre amanhã e quarta-feira, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) se reúne para definir o patamar dos juros que foi cortado em 0,25 ponto percentual em outubro, para 14%, após passar quatro anos sem baixas.
Na avaliação do presidente do Instituto Fractal Análises de Mercado, Celso Grisi, a taxa deve passar por mais uma redução de 0,25 ponto em 2016. Segundo ele, o avanço do dólar sobre o real com a eleição de Trump nos Estados Unidos no dia 9 deste mês diminuiu a margem do BC para reduzir a Selic.
“Está difícil cortar juros com o dólar pressionando nossa economia. Quando a moeda norte-americana começa a valorizar ante o real, as empresas brasileiras precisam repassar essa variação para os nossos produtos, pressionando a inflação”, diz.
Um dia antes da eleição de Trump, o dólar estava cotado a R$ 3,16 e no dia 14 de novembro bateu R$ 3,44. Ontem, a moeda norte-americana fechou a R$ 3,41.
O coordenador do curso de Administração do Instituto Mauá de Tecnologia (IMT), Ricardo Balistiero, avalia que, somada à pressão do dólar, a resistência “relativa” da inflação, principalmente dos serviços, limita um corte mais forte nos juros. O Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) acumula alta de 7,78% em 12 meses até outubro. Em janeiro, a variação era de 10,71%.
Próximo ano
Já para 2017, a expectativa do mercado é que a Selic seja reduzida em mais três pontos percentuais, alcançando 10,75% ao final do ano. Balistiero, porém, tem dúvidas se esse ritmo de baixa pode se concretizar. Para ele, o cenário político brasileiro é o principal fator de incerteza.
“Apesar de o presidente Michel Temer ter sinalizado um norte para a economia, ele nunca teve respaldo político perante a população. Então, qualquer solavanco já balança seu governo, como ocorreu recentemente com as acusações contra Geddel [Vieira Lima, ex-ministro da Secretaria de Governo]”, analisa Balistiero. Geddel pediu demissão do cargo na sexta-feira, após ser acusado pelo ex-ministro da Cultura Marcelo Calero de tê-lo pressionado para liberar uma obra no centro de Salvador.
Para Balistiero, episódios como esse vão retirando a credibilidade política da gestão Temer. “Com o governo enfraquecido, fica difícil aprovar as reformas fiscais, o que, consequentemente, afugenta investidores”, diz ele. Com saída de divisas do País, a tendência é que o BC faça cortes menores nos juros, para tentar manter investimentos aqui.
“Outro risco é se o Trump colocar em prática o que vem anunciando. Políticas protecionistas pedem aumento de gastos públicos. Gastos geram inflação e inflação gera custos altos que são combatidos com juros. Este cenário pode levar o Federal Reserve [Fed, o BC norte-americano] a elevar a taxa para um patamar maior do que vem sendo projeto”, diz.
“Com a taxa subindo nos EUA, o capital migra para lá, aumentando naturalmente a taxa de câmbio em boa parte dos países do mundo”, diz.
Se o Trump não levar à cabo sua política protecionista, Balistiero não vê risco na alta dos juros norte-americanos, pois este movimento já vem sendo precificado há três anos. A próxima reunião do Fed será entre os dias 13 e 14 de dezembro.
“De qualquer forma, o Brasil tem reservas internacionais e instrumentos, como as swaps cambiais [derivativos de câmbio] para controlar as oscilações da moeda”, afirma. “Os países que não tiverem reservas internacionais terão que pressionar mais os juros para se proteger da pressão inflacionária do câmbio. Esse movimento, por outro lado, não pode ser caracterizado como ‘guerra cambial’ entre os países. Pois ‘guerra cambial’ existe quando as nações usam instrumentos de política monetária para ganhar competitividade no mercado internacional. Não é caso deste exemplo onde os países mexem nos juros para se protegerem”, finaliza.
Fonte: DCI-SP