27 jul 2020 – Economia e Finanças
O nome enche os olhos de pequenos donos de negócios. Programa Nacional de Apoio às Microempresas e Empresas de Pequeno Porte (Pronampe).
Instituído pela Lei 13.999, de 18 de maio de 2020, o programa oferece R$ 18,7 bilhões às empresas para amenizar os efeitos da pandemia do novo coronavírus.
Com uma confecção de roupas masculinas e sete lojas no Brás e Bom Retiro, bairros de São Paulo, William Berenguer Sukarie correu atrás do dinheiro.
Há 15 dias, entrou com pedido de empréstimo em uma agência da Caixa Econômica Federal. Pelo programa, a empresa pode obter até 30% do faturamento de 2019.
No caso de Sukarie, a sua empresa, a Cia. Ypslon, com pouco mais de 34 anos, poderia obter até R$ 300 mil do Pronampe, pois faturou R$ 1 milhão no ano passado.
“Até agora, não recebi e-mail nem telefonema da agência. Eles não me atendem. Já percebi que não vou conseguir tirar esse dinheiro”, diz.
Com o fechamento do comércio, diz ele, a empresa ficou descapitalizada, e por isso já utilizou até o limite do cheque especial para pagar as contas.
Os donos dos imóveis onde estão as suas lojas deram desconto de 50%, em média, no valor do aluguel, mas com faturamento a zero nem a redução da locação foi suficiente.
“Eu já passei por muitas crises, mas esta é disparadamente a pior delas. Em 30 anos, nunca vi tanta loja fechada, uma ao lado da outra, como agora, na Rua José Paulino.”
Antes da pandemia, Sukarie tinha nove lojas. Fechou duas em dois shoppings no Brás. Possuía 45 empregados e, agora, 38.
“Sete voltaram para as cidades deles porque viram que não daria mais para se manter na cidade.”
As vendas estão 18% do que eram em igual período do ano passado, de acordo com ele. Para ter alguma entrada de dinheiro no caixa decidiu fazer uma liquidação.
“Estou vendendo camisa de veludo e de flanela por R$ 69, quando tinha de vender por R$ 129. Calça de veludo, de R$ 149, coloquei por R$ 79,90.”
Blusas masculinas de tricô que foram produzidas por terceiros com a marca da empresa deveriam ser comercializadas por R$ 159 a peça. A loja reduziu para R$ 109.
“Uma empresa produziu as blusas sob minha encomenda, com a minha marca, e eu não poderia, simplesmente, não recebê-las.”
Assim como em vários pontos comerciais de São Paulo, há muitas lojas que sequer conseguiram reabrir neste mês.
E mesmo para aqueles que abriram as portas, as vendas caíram tão drasticamente, como no caso de Sukarie, que há dúvidas se vale a pena mantê-las.
Uma das maiores imobiliárias da região do Brás informa que os gastos dos consumidores na região despencaram 70%, de acordo com relatos de empresários.
Lojistas de todo o país que compravam no atacado ou mesmo consumidores que gastava R$ 1.000 em um dia de compras no Brás, agora gastam R$ 300.
De acordo com consultores imobiliários da região, os lojistas nunca estiveram tão preocupados com os negócios como hoje.
Entendem que o pouco consumo que há, neste momento, pode ser reflexo do auxílio emergencial dado pelo governo para as classes de menor poder aquisitivo.
Quando esse programa terminar, pode ter mais uma onda de fechamento de lojas, já que o desemprego continua crescendo.
“Está havendo uma revolução no mercado nessas regiões”, diz R.M, corretor de imóveis no Brás.
Os empresários que estão mantendo o negócio são aqueles que já possuíam alguma experiência no e-commerce.
Muitos deles estão fechando as lojas físicas e alugando salas comerciais para operar somente com a venda pela internet.
“Há muitos coreanos fazendo isso no Brás”, diz o corretor.
Este movimento está deixando muitas lojas vazias em regiões comerciais de São Paulo e pode até favorecer o mercado de salas comerciais, de acordo com R.M.
Diferentemente de outras crises que o Brasil já viveu, desta vez, especialistas em venda e locação de imóveis não conseguem prever se este movimento de troca de lojas por salas comerciais é temporário ou tendência.
O rearranjo no mercado dos pontos mais tradicionais do comércio de São Paulo, dizem eles, deve ficar mais claro somente a partir do ano que vem.
Fonte: Diário do Comércio