29 mar 2019 – Contabilidade / Societário
O mercado segurador começa a se preparar para a grande mudança que ocorrerá a partir de 2022, com a adoção da chamada IFRS 17, Padrão Internacional de Relatórios Financeiros (International Financial Reporting Standards 17), norma mundial que alterará significativamente o modelo de gestão contábil, financeiro e atuarial das empresas de seguros.
Todos os contratos serão regidos pelas novas regras, que mudarão a forma de as empresas reconhecerem suas receitas e de mensurarem seus passivos. A vantagem para as seguradoras é a de se tornarem alinhadas à metodologia global. Os riscos têm a ver com prazos. Há dúvidas por parte de especialistas de que todo o mercado estará preparado para adotar a IFRS 17 já em 2022.
A IFRS 17, definida pelo International Accounting Standards Board (IASB) e aprovada em 2017, visa assegurar um tratamento contábil comum ao mercado segurador global, permitindo a comparação de resultados a partir dessa unificação, além de maior transparência nos resultados. Atualmente, a legislação tanto no Brasil como no exterior adota formas distintas de cálculos, resultando na diversidade de práticas contábeis.
“A IFRS 17 já é considerada revolucionária”, diz Alexandre Paraskevopoulos, sócio da Deloitte. Segundo ele, as grandes empresas mundiais já começaram a aplicar a norma, mas, dada sua complexidade, pressionaram para que entrasse em vigor em 2022, um ano depois do previsto inicialmente. Além de permitir maior comparabilidade, a IFRS 17 alterará o modo como a seguradoras avaliam seu desempenho, além de tornar mais objetivo o entendimento do lucro e da rentabilidade. “Será um avanço muito grande para as atividades de seguro como um todo”, afirma.
Por exemplo, as seguradoras terão que recalcular o fluxo de caixa dos produtos retroativos à data de seu lançamento. “Um produto lançado há dez anos, demandará que a empresa refaça o fluxo de caixa da data do seu lançamento até hoje. A partir daí terá que começar a montar modelos de fluxo de caixa, ajuste de risco e taxa de desconto”, diz João Batista da Costa Pinto, sócio da Deloitte.
Carlos Matta, sócio da PwC Brasil, faz a mesma avaliação. “O impacto será bem relevante e o maior deles ocorrerá na área de tecnologia”, disse. As companhias terão que adaptar todos os sistemas de forma disruptiva. Matta enfatizou que as novas métricas alterarão a lucratividade das seguradoras, já que a apuração dos resultados será completamente diferente da atual. No Brasil, as empresas de maior porte já estão começando a investir na mudança, realizando o que chamou de finance transformation, mas ainda há muito caminho pela frente. “Não é só mudança na contabilidade, mas de estrutura financeira das companhias. Se começarem hoje, estão atrasadas.”
Danielle Torres, sócia- diretora da KPMG, diz que a norma introduz três modelos de contabilização para mensurar contratos de seguro e registro de receita. Destaca, entre as novidades, o de mensuração do passivo, trazendo métricas de interpretação que, até então, não se mostram tão evidentes nas demonstrações financeiras. “O primeiro impacto será um maior nível de transparência.” Outra novidade é a informação do ajuste pelo risco não financeiro e margem de seguro, que podem sofrer variação à cada data de balanço.
A IFRS 17 substituirá a IFRS 4, lançada em 2004, e demandou cerca de 20 anos de discussão. O setor de seguros é o único que tem uma IRFS específica e isso ocorre, segundo Vania Borgerth, membro do Advisory Council, da IFRS Foudation, por estar diretamente relacionado à poupança global futura. “É um setor que lida com previsão, não lida com eventos concretos já ocorridos.”
Fonte: Valor Econômico